quinta-feira, 26 de maio de 2016

A tragédia climática de 2011 num livro – uma história de resiliência e esperança


Vivi a tragédia climática, em Nova Friburgo, em 2011. Fui acordada naquela madrugada com um pedido de socorro. A partir dali vivenciei cenas de horror e drama até o amanhecer e durante os dias que se seguiram. Não perdi nenhum familiar, felizmente. Mas a casa que meus pais levaram anos para construir não pôde mais ser seu lar. Perdi alguns amigos, entre eles alunos e ex-alunos. Tristeza enorme. E me solidarizei com a dor de tantos que tiveram suas vidas ainda mais tragicamente afetadas do que a minha.
Naquele ano, eu completava 20 anos de trabalho no Educandário Miosótis, que foi diretamente atingido pela tragédia. Foi um baque enorme. Mas ver a escola, com o esforço de muitos – professores, funcionários, pais e alunos – e com a persistência e a perseverança de uma Direção forte, dar continuidade ao seu trabalho foi inspirador.
Foi naquele ano que aprendi sobre o significado de resiliência. A construção do sentido dessa palavra se deu pela vivência de diversos sentimentos que conflitaram dentro de mim durante as semanas daquele janeiro e que retornaram em muitos outros momentos após aquele período inicial de impacto.
Quando eu soube que minha amiga Ania Kítylla estava escrevendo um livro sobre a tragédia, minha curiosidade logo se aguçou. Como seria ler sobre algo tão traumático e tão perto de mim – no tempo e no espaço?
Generosamente, Ania me presenteou com um livro. Foi uma maravilhosa surpresa! Era uma quinta-feira à noite e, antes mesmo de dormir, após uma série de afazeres domésticos, eu já havia lido as primeiras trinta páginas, que compõem a Parte I, chamada “A noite obscura”.
Doeu. De uma forma deliciosa (por mais estranho que isso possa parecer), Ania conseguiu contar o drama daquela madrugada de um modo que, embora nos faça relembrar as experiências vividas, cria o desejo de seguir a leitura e descobrir “onde isso tudo vai dar?”. Essa delícia flui na escrita de Ania (eu já havia tido essa sensação quando li seu primeiro livro, “Café sobre tela") e o modo como ela escolheu contar essa história causa certo suspense ao mesmo tempo em que há leveza e profundidade no seu texto.
A chuva é um personagem no livro e isso provoca uma série de reflexões sobre as ocorrências climáticas daquela noite trágica. E nos reconcilia com a chuva, esta de que tanto necessitamos e da qual não podemos abrir mão para nossa própria sobrevivência, a despeito de, naquela noite, ter trazido tanta dor e perdas.
O enredo é contado a partir do ponto de vista de três outros personagens, que, de pontos geográficos e emocionais distintos, vivenciam a tragédia e tomam rumos nas suas vidas para superá-la, aos mesmo tempo em que suas histórias pessoais vão se entrelaçando.
Eu diria que “Brisa” não é sobre a tragédia. Seu enredo é ambientado nela, mas trata de esperança e de resiliência. É uma história sobre como cada um de nós está, de algum modo, ligado ao outro. De como podemos escolher nos dedicar a olhar e cultivar nossas próprias dores ou superar essas dores e nos tornamos seres melhores – para nós mesmos e para os que estão ao nosso redor.

Lindo livro! 

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