Vivi a tragédia
climática, em Nova Friburgo, em 2011. Fui acordada naquela madrugada com um
pedido de socorro. A partir dali vivenciei cenas de horror e drama até o
amanhecer e durante os dias que se seguiram. Não perdi nenhum familiar,
felizmente. Mas a casa que meus pais levaram anos para construir não pôde mais
ser seu lar. Perdi alguns amigos, entre eles alunos e ex-alunos. Tristeza
enorme. E me solidarizei com a dor de tantos que tiveram suas vidas ainda mais
tragicamente afetadas do que a minha.
Naquele ano, eu
completava 20 anos de trabalho no Educandário Miosótis, que foi diretamente
atingido pela tragédia. Foi um baque enorme. Mas ver a escola, com o esforço de
muitos – professores, funcionários, pais e alunos – e com a persistência e a
perseverança de uma Direção forte, dar continuidade ao seu trabalho foi
inspirador.
Foi naquele ano
que aprendi sobre o significado de resiliência. A construção do sentido dessa
palavra se deu pela vivência de diversos sentimentos que conflitaram dentro de
mim durante as semanas daquele janeiro e que retornaram em muitos outros
momentos após aquele período inicial de impacto.
Quando eu soube
que minha amiga Ania Kítylla estava escrevendo um livro sobre a tragédia, minha
curiosidade logo se aguçou. Como seria ler sobre algo tão traumático e tão
perto de mim – no tempo e no espaço?
Generosamente,
Ania me presenteou com um livro. Foi uma maravilhosa surpresa! Era uma
quinta-feira à noite e, antes mesmo de dormir, após uma série de afazeres
domésticos, eu já havia lido as primeiras trinta páginas, que compõem a Parte
I, chamada “A noite obscura”.
Doeu. De uma
forma deliciosa (por mais estranho que isso possa parecer), Ania conseguiu
contar o drama daquela madrugada de um modo que, embora nos faça relembrar as
experiências vividas, cria o desejo de seguir a leitura e descobrir “onde isso
tudo vai dar?”. Essa delícia flui na escrita de Ania (eu já havia tido essa
sensação quando li seu primeiro livro, “Café sobre tela") e o modo como
ela escolheu contar essa história causa certo suspense ao mesmo tempo em que há
leveza e profundidade no seu texto.
A chuva é um
personagem no livro e isso provoca uma série de reflexões sobre as ocorrências
climáticas daquela noite trágica. E nos reconcilia com a chuva, esta de que
tanto necessitamos e da qual não podemos abrir mão para nossa própria
sobrevivência, a despeito de, naquela noite, ter trazido tanta dor e perdas.
O enredo é
contado a partir do ponto de vista de três outros personagens, que, de pontos
geográficos e emocionais distintos, vivenciam a tragédia e tomam rumos nas suas
vidas para superá-la, aos mesmo tempo em que suas histórias pessoais vão se
entrelaçando.
Eu diria que “Brisa”
não é sobre a tragédia. Seu enredo é ambientado nela, mas trata de esperança e
de resiliência. É uma história sobre como cada um de nós está, de algum modo,
ligado ao outro. De como podemos escolher nos dedicar a olhar e cultivar nossas
próprias dores ou superar essas dores e nos tornamos seres melhores – para nós
mesmos e para os que estão ao nosso redor.
Lindo livro!
Quando eu crescer, quero escrever como você....obrigada!!
ResponderExcluir