Escrevi esse texto muito emocionada, quando me dei conta de que iria usar uma sala em 2018 (de volta à função de coordenadora) que havia sido a minha primeira sala naquele prédio, no ano 2000. As fotos são da sala já arrumada, em janeiro de 2018.
Era outubro de 2000. Ano universalmente especial, de data tão
emblemática.
Para nós, do Educandário Miosótis, especial e emblemático por
motivo celebrativo: a escola completava 10 anos de existência.
O presente chegou, significativa e expressivamente: os
administradores adquiriram uma propriedade nova para a escola funcionar. Ampla,
arborizada, no Centro da cidade. Poderia haver melhor forma de comemorar?
Preparamos a mudança de parte das turmas naquele mesmo ano, no
último bimestre letivo. Por que a pressa? Porque não víamos a hora de desfrutar
de toda a promessa daquele novo espaço. Levamos, então, o ensino fundamental,
que, naquele ano, chegava completo, com todas as séries (1a a 8a, pela lei da
época).
Choveu no nosso primeiro dia de aula na Alameda. A rua tinha
calçamento de pedras e era escorregadia. A quase totalidade do espaço era de
chão de terra, que permaneceu enlameado por mais de uma semana, sob a chuva de
primavera que caía intensa. Havia partes do terreno aonde os estudantes não
podiam ir e precisávamos cuidar disso com atenção redobrada durante os horários
fora de sala de aula.
Mas foi lindo!... Eu olhava deslumbrada para tudo à volta e sei
que contagiava o olhar dos meus alunos, crianças da classe de alfabetização
que, assim como eu, enxergavam em cada pedacinho um futuro muito próximo, cheio
de possibilidades.
Durante os nove anos em que trabalhava na escola, estive em
alguns tipos de salas e enfrentei as dificuldades de cada espaço. Meu primeiro
passo foi sempre o de criar um vínculo de afeto com meus alunos para que
pudéssemos confiar uns nos outros.
Assim, tive uma turma de III Período no segundo andar, com a
presença de um aluno de inclusão, e nunca houve ninguém rolando pelas escadas.
Tive duas turmas de alfabetização numa sala no primeiro andar, onde só havíamos
nós. E, fora as idas ao banheiro devidamente autorizadas, andávamos juntos, de
um lugar ao outro, sem acidentes nem nenhum tipo de problema.
Quando mudamos para a Rua Pastor Meyer (mais uma das conquistas
do Educandário Miosótis), estive um ano numa sala com uma grande porta de vidro
ao fundo e tudo transcorreu normalmente. Dois ou três anos estive numa sala no
segundo andar, com a 5a série, e a experiência rica da sala de aula transcorreu
em paz.
E durante os outros anos lecionei numa sala de aula que fora a
garagem da residência. Seu formato era desigual e o espaço ia diminuindo para o
fundo da sala, afunilando. Não era o local ideal, tanto que nunca mais houve uma
sala assim na escola. Ali, trabalhava nos dois turnos, com turmas de 4a a 8a
série pela manhã e a classe de alfabetização à tarde. E afirmo, sem medo de ser
hipócrita nem piegas, que éramos felizes ali. Aprendíamos, sobre as letras, as
palavras, os textos, a língua e também sobre muitas outra coisas. Cantávamos,
ríamos e brincávamos também. E sei que essas memórias fazem parte de mim tanto
quanto de cada um dos alunos com quem convivi diariamente.
Na Alameda, a primeira sala de aula em que trabalhei, é onde
fica hoje à sala da coordenação. É a sala que usarei em 2018, quando assumo
novo desafio. Se na vida concreta pode ser apenas uma coincidência, na leitura
simbólica da vida, o fato ressoa/ecoa e chega pra mim como um rito de passagem.
A professora que chegou àquela sala no ano 2000 permanece. Seu olhar
deslumbrado diante da beleza ao redor (ainda mais bela hoje) procura contagiar
os que estão à sua volta. Ensinar continua sendo sua vocação e, para tal, ela
não cansa de estudar e de aprender. E o que aprendeu, sempre trouxe para essa
escola. E nessa escola sempre aprendeu muito e levou para si. E nesse vai e vem
de aprendizados, a menina-mulher é a mulher-menina que se constrói a cada
dia.
Essa sou eu. E saber que vou olhar novamente pela janela daquela
sala, me causa grande emoção. É o mesmo olhar, pra enxergar outras coisas. E
vai ser lindo, eu creio!
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