domingo, 6 de agosto de 2017

Sobre florescer - tempos de folhas e tempos de flores

Acabo de chegar ao Conectivos. Fui incumbida de escrever um texto para me apresentar. Pensamento vai, pensamento vem, lembrei-me da maravilha que vivemos recentemente com as cerejeiras em flor. E descobri o mote para este meu texto.
Há cerca de duas semanas, as cerejeiras da cidade onde moro estavam lindamente floridas. São muitas! E podiam ser vistas em diversos lugares, em meio às construções, embelezando a paisagem, ainda verde, de Nova Friburgo,. Uma imagem para deixar os olhos brilhando e o coração feliz.
As cerejeiras são uma árvore típica japonesa. Há as que dão frutos comestíveis, as que dão frutos que não podem ser comidos e as que não frutificam. Todas têm em comum as belas flores, que chegam de repente e, na mesma velocidade, vão embora.
Por causa de ficar florida durante pouco tempo, as cerejeiras representam a fragilidade da vida. Para os samurais, os guerreiros japoneses, elas estavam associadas à efemeridade da existência humana e ao lema deles: viver o presente sem medo. 
Não sei bem o motivo, mas este ano a florescência das cerejeiras me chamou mais à atenção do que de costume. A sensação foi a de que acordei num belo jardim, que se estendia por onde quer que eu passasse. As cerejeiras floriram no lugar onde moro, nas ruas por onde passo, na escola onde trabalho. Da minha janela, olhava ao longe e via dezenas de cerejeiras; assim foi também com as janelas das minhas salas de aula. Os tapetes de flores cobriam todo o chão por onde eu passava, com meus filhos, com meus alunos. Pisar ali me causava uma sensação maravilhosa; foi, sem dúvida, uma experiência de dádiva. 
E foi especial, porque consegui ir acompanhando a cada dia. Fui vendo as flores chegarem e as cerejeiras, repentinamente, se transformarem incrivelmente na cor rosa... E, num dia qualquer, de repente elas estavam plenas de flor, cor e beleza!
Desse mesmo modo, porém, as flores foram se desfazendo... Foram perdendo seu vigor, a cor desbotando, o chão ficando menos florido. E, como num piscar de olhos, as árvores voltaram a ser como antes. E embora haja uma breve sensação de melancolia, reconhecer a realização da natureza é algo indescritível.
Eu sou como a cerejeira. Estou aqui há alguns anos. Galhos fortes, com aparência dura. Vez ou outra, floresço. E as flores agradam aos olhos de quem me rodeia. Mas sempre volto ao formato original. As flores não são a cerejeira; a cerejeira é o antes e o depois da flor. E sigo, nesse círculo vital, me preparando para cada florescência. 

Chego ao Conectivos para florir. Sei que virão bela flores, porque nos preparamos para que elas cheguem. Sei, também, que haverá muito mais tempo da ausência delas, principalmente porque, às vezes, a beleza não está a olhos vistos. Mas... se soubermos aguardar o tempo devido, as flores sempre chegarão.
Já estou feliz! E rego as sementes já há tanto tempo plantadas. E agradeço à vida pela oportunidade dessa conexão – com o saber, com o conhecimento, com as pessoas (amigos e amigas que já estão comigo, há muito ou há pouco tempo; amigos e amigas que chegarão).

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