Texto escrito para a turma 191, na celebração de conclusão do Ensino Fundamental, em 10 de dezembro de 2015.
Querido Aluno
Querida Aluna
O convite para estar aqui hoje neste púlpito muito me honrou. Encheu meu coração de orgulho e minha alma de
gratidão.
“Fala na nossa formatura,
professora, a gente gosta de ouvir você e das polêmicas de suas aulas.”
Foi assim o convite. Preciso
explicar ao público o porquê das tais aulas polêmicas. Sou professora de Língua
Portuguesa e atuei com a disciplina de Redação nesta turma durante dois anos
consecutivos.
E redação é muito mais do que
técnica escrita. Na verdade, um texto pode estar ortográfica e
textualmente bem escrito e ser um mau texto. E é aí que entram os momentos
polêmica: antes de transformar-se em escrita, um texto tem de ser fala. Porque
na existência humana, primeiro houve a oralidade. Porque sempre que um novo ser
humano nasce, é a palavra dita que se conhece primeiramente.
E usamos isso em muitas de nossas
aulas. A possibilidade de falar sobre o que se entende, o que se sabe, o que se
pensa. Não a fala vazia do “eu acho”, com essas bandeiras que se levantam a
todo instante motivadas por alguns e copiada, imitada e alienadamente seguidas
por tantos.
Mas a fala que é discurso. Que
revela conhecimentos relacionados, saberes integrados e transborda dúvidas.
Diz-se que, mais importante do que dar respostas é saber fazer perguntas. Foram
muitas! E não partiram apenas de um questionário ou roteiro formatadamente
elaborado. Eram perguntas que nasciam da indagação que faz parte de cada ser
humano; perguntas filosóficas buscando compreender o mundo real, ali à espera
de cada um deles. Perguntas que partiam das mais variadas leituras: de uma
música, de um vídeo, de uma imagem, de uma crônica, de um artigo de opinião.
E é claro que a disciplina Redação
sozinha não seria nada sem cada um dos colegas professores e professoras na construção do conhecimento. Como abrir mão das aulas de língua
portuguesa com os estudos dos mais variados textos e do entendimento da
estrutura gramatical da língua a serviço da compreensão? Como exercitar o
raciocínio lógico, tão necessário à compreensão e construção dos discursos sem
os conteúdos da linguagem matemática que propiciam isso? Como falar sobre o
mundo em que se está inserido sem entender os fatos e personagens históricos,
nem conhecer as influências da geografia física e humana, sem ser capaz de
identificar os fenômenos da natureza e sua relação com todo o ambiente? Que bom
que eu e vocês não estivemos sozinhos!...
Chegamos ao final do ano e quantas
são as perguntas que pulsam dentro de nós já apontando para aulas que ainda
virão. Que bom! Bom saber que vocês reconhecem que o conhecimento está em toda
a parte e que é de fácil acesso. Mas que aprendizado precisa de partilha,
necessita de falar para o outro e ouvir o outro. Que os textos escritos, quando
bem escritos, podem, mais do que expressar sentimentos, pensamentos, ideias e
opiniões, podem transformar tudo isso – em nós mesmos e nos outros.
Que a busca de vocês seja pelo
aprendizado da técnica, sim, que contribui para se aperfeiçoar o como escrever.
No entanto, que jamais se perca a busca pelo aprendizado do que se quer dizer e
do que se deve dizer.
A história de vida de vocês escrita
até aqui é linda. E há muitos capítulos ainda a serem escritos. Ficarei ainda
mais honrada se eu puder, juntamente com cada um dos meus colegas, continuar a
colaborar nessa escrita de muitas mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário