quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Texto escrito para a turma 191, na celebração de conclusão do Ensino Fundamental, em 10 de dezembro de 2015.

Querido Aluno
Querida Aluna

O convite para estar aqui hoje neste púlpito muito me honrou. Encheu meu coração de orgulho e minha alma de gratidão.
“Fala na nossa formatura, professora, a gente gosta de ouvir você e das polêmicas de suas aulas.”
Foi assim o convite. Preciso explicar ao público o porquê das tais aulas polêmicas. Sou professora de Língua Portuguesa e atuei com a disciplina de Redação nesta turma durante dois anos consecutivos.
E redação é muito mais do que técnica escrita. Na verdade, um texto pode estar ortográfica e textualmente bem escrito e ser um mau texto. E é aí que entram os momentos polêmica: antes de transformar-se em escrita, um texto tem de ser fala. Porque na existência humana, primeiro houve a oralidade. Porque sempre que um novo ser humano nasce, é a palavra dita que se conhece primeiramente.
E usamos isso em muitas de nossas aulas. A possibilidade de falar sobre o que se entende, o que se sabe, o que se pensa. Não a fala vazia do “eu acho”, com essas bandeiras que se levantam a todo instante motivadas por alguns e copiada, imitada e alienadamente seguidas por tantos.
Mas a fala que é discurso. Que revela conhecimentos relacionados, saberes integrados e transborda dúvidas. Diz-se que, mais importante do que dar respostas é saber fazer perguntas. Foram muitas! E não partiram apenas de um questionário ou roteiro formatadamente elaborado. Eram perguntas que nasciam da indagação que faz parte de cada ser humano; perguntas filosóficas buscando compreender o mundo real, ali à espera de cada um deles. Perguntas que partiam das mais variadas leituras: de uma música, de um vídeo, de uma imagem, de uma crônica, de um artigo de opinião.
E é claro que a disciplina Redação sozinha não seria nada sem cada um dos colegas professores e professoras na construção do conhecimento. Como abrir mão das aulas de língua portuguesa com os estudos dos mais variados textos e do entendimento da estrutura gramatical da língua a serviço da compreensão? Como exercitar o raciocínio lógico, tão necessário à compreensão e construção dos discursos sem os conteúdos da linguagem matemática que propiciam isso? Como falar sobre o mundo em que se está inserido sem entender os fatos e personagens históricos, nem conhecer as influências da geografia física e humana, sem ser capaz de identificar os fenômenos da natureza e sua relação com todo o ambiente? Que bom que eu e vocês não estivemos sozinhos!...

Chegamos ao final do ano e quantas são as perguntas que pulsam dentro de nós já apontando para aulas que ainda virão. Que bom! Bom saber que vocês reconhecem que o conhecimento está em toda a parte e que é de fácil acesso. Mas que aprendizado precisa de partilha, necessita de falar para o outro e ouvir o outro. Que os textos escritos, quando bem escritos, podem, mais do que expressar sentimentos, pensamentos, ideias e opiniões, podem transformar tudo isso – em nós mesmos e nos outros.
Que a busca de vocês seja pelo aprendizado da técnica, sim, que contribui para se aperfeiçoar o como escrever. No entanto, que jamais se perca a busca pelo aprendizado do que se quer dizer e do que se deve dizer.

A história de vida de vocês escrita até aqui é linda. E há muitos capítulos ainda a serem escritos. Ficarei ainda mais honrada se eu puder, juntamente com cada um dos meus colegas, continuar a colaborar nessa escrita de muitas mãos.  

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