Estou naquela árdua tarefa de corrigir provas, lançar
notas, fechar diários, preencher planilhas virtuais. Uma loucura que só sabe quem
é professor (maridos e esposas desses profissionais desconfiam o que seja, pois costumam acompanhar boa parte).
É um período sempre muito cansativo ao final de cada
bimestre e que chega a ser estressante quando é ao fim do semestre letivo.
Parece que brota material e que isso não acabará nunca.
Obviamente, termina. Como um ciclo, tem seu começo,
início e fim que já direciona para novo início e assim sucessivamente. E
confesso que esse ciclo me agrada e me causa certo encanto. Talvez por isso
seja professora. Não dá para ser, se não for possível descobrir algum
encantamento nesse trabalho. Acho que anda faltando isso por aí... Mas esse é assunto para outro texto, outro dia.
Não vou tratar aqui das questões governamentais e burocráticas que
envolvem o sistema educacional. Neste momento, preciso falar de uma certa
beleza de se chegar aos resultados do fim de um período letivo. Repito: BELEZA. Não enlouqueci,
não. Enchi-me, mais uma vez (e sempre!), de esperança.
Adoro elaborar provas. Sinto-me sempre instigada
intelectualmente a produzir algo que teste, em primeiro lugar, a mim mesma.
Sim, porque preciso organizar um instrumento para avaliar meus alunos que
esteja diretamente relacionado e adequado às aulas que ministrei. Ali, precisam
estar contemplados os conteúdos que trabalhei, de acordo com o que foi
exercitado. Mas ali deve haver também vida inteligente: desejo que no momento de
realizar a prova cada estudante sinta-se também instigado a pensar novamente
sobre tudo aquilo, buscando na memória as falas, as dúvidas, as trocas que
aconteceram nos nossos encontros; que cada um tenha um esforço pessoal ao
responder às questões para que, ao final, sinta-se satisfeito com seu próprio
trabalho.
Por isso, tenho enorme dificuldade com bancos de
questões. Pesquiso neles, sim; são úteis em certas ocasiões. Mas necessito de
ter, ao elaborar uma prova, o mesmo desafio de criatividade que me acometeu ao
planejar cada uma de minhas aulas. Não sei seguir receitas pedagógicas; até
porque, se bem aprendi nos meus estudos em Pedagogia (na faculdade, e antes e
depois dela) devo partir de determinados parâmetros, mas cada aula será única,
porque singular é cada turma, com sujeitos distintos entre si e que necessitam,
portanto, de um trabalho que os respeite em suas diferenças ao mesmo tempo que lhes assegure direitos iguais. Um desafio e tanto!
Depois, corrijo as provas com ansiedade. Quero ver se acertei
ao cobrar tal coisa de tal modo. Como professora de Português, desejo ver se bem escolhi os textos e se elaborei questões adequadas. Se não foi boazinha. Se não foi mazinha. Busco o equilíbrio até mesmo na hora de elaborar minhas provas - sensatez e coerência.
Que tristeza diante de resultados ruins... Há muita
dificuldade hoje nas escolas, sim. Nossas aulas concorrem com o “barulho do
mundo”: excesso de estímulos visuais, auditivos, tecnológicos que roubam a
atenção que crianças e adolescentes precisariam dar aos estudos. As famílias
não estão em casa, como antigamente, e o acompanhamento à vida escolar dos
filhos lhes escapa. Considero tudo isso ao planejar minhas aulas e me frustro
quando tudo isso me vence. Porque, embora a nota seja do aluno, também me sinto
um pouco derrotada. Para esses alunos, sempre procuro identificar o que eu,
dentro das minhas limitações, ainda poderia fazer para ajudá-lo.
Que contentamento diante dos bons resultados! Olho
para meu próprio trabalho e sinto satisfação por ter sucesso ao ensinar. Fico feliz de encontrar ainda quem se dedique e se empenhe no papel de aluno.
Mas, ALEGRIA mesmo, de verdade, não tem relação
propriamente com essa ou aquela nota. Alegria eu sinto ao ver superação:
descobrir algo a mais para se fazer por um aluno (e às vezes esse algo a mais
não é didático, mas está no campo do afetivo; trata-se, às vezes, de descobrir
o olhar ou o sorriso a oferecer àquela pessoa; mas pode ser pedagógico, sim, num outro modo de ensinar, de cobrar, de exigir) e perceber que está dando
frutos compensa a tristeza sentida anteriormente. Se eu pudesse, a esses que se
superam eu daria um presente. Os troféus e medalhas não deveriam ser para os
primeiros lugares... Há muitas outras formas de se enxergar mérito!
E a alegria de admirar um aluno? Ler o que ele
escreveu e pensar: “Que maravilha!... Isso está muito além do que ensinei.”
Acho que a primeira vocação do professor precisa ser ensinar. Penso que não se
ensina se se deixa de aprender. Reconheço em mim essa vocação e me empenho
para continuar aprendendo – mesmo hoje, 25 anos depois de ter tido minha
primeira turma. Mas, sem dúvida alguma, ver que alguém aprendeu aquilo que você
ensinou e, ao construir o próprio conhecimento, supera a si mesmo e a você próprio é algo fantástico e
renova todas as esperanças.
Gratidão à vida por essa profissão ter me escolhido!
Parabéns!!! Excelente texto, vale a leitura e reflexão!
ResponderExcluirObrigada, Gustavo! Bj grande
ExcluirÉ maravilhoso mesmo, Marcia. Principalmente quando percebemos que, mesmo em meio as "tempestades," alguma sementinha caiu e germinou e que nós fomos os responsáveis por isso.
ResponderExcluirObrigada, Auricea! É isso mesmo!...
ResponderExcluirParabéns pelo texto Márcia!
ResponderExcluirFico feliz em saber do seu encantamento e entusiasmo pela profissão, profissão essa, que necessita de muita paixão mesmo, como todas as funções na área educacional! Precisamos dessa garra para desenvolver práticas libertadoras, para plantar sementes e resgatar sonhos, para fazer acreditar que é possível sim, que a vida é regida pela educação familiar e pela educação formal encontrada nas escolas da vida. Também sou realizada trabalhando na educação, satisfeita, e quando fazemos com convicção e prazer estamos desenvolvendo nosso papel na humanidade, nossa utilidade!