Uma mensagem para os formandos do Ensino Médio do Educandário Miosótis – turma de 2014
Hoje é um
dia de festa. Mas é também um dia de despedida. É estranho essas duas coisas
estarem juntas, mas uma formatura é paradoxal mesmo: traz à tona o passado e o
futuro no momento presente.
E eu não
poderia deixar de falar para vocês. Sobre o futuro, não. Sobre esse, vocês
mesmos virão falar daqui a muito pouco tempo. E eu tenho certeza de que as
notícias serão lindas, de muitas conquistas, de caminhos árduos, de lágrimas e
sorrisos, instantes tristes e muitas alegrias. Aguardo – aguardamos – cada um
desses relatos com ansiosa esperança. Vocês são privilegiados por estarem aqui,
concluindo o ensino médio tão jovens, por terem família e um lar. Já são
vitoriosos... Precisam, agora, aprender a traçar seus próprios caminhos e se
empenhar na caminhada.
Quero, no
entanto, falar de passado. “Trazer a memória o que me dá esperança”, como diz o
profeta, no texto bíblico. E é a partir da Bíblia que quero refletir. Não do
livro sagrado, usado por judeus e cristãos no mundo todo. Quero olhar para a
obra literária que é a Bíblia e escolhi um texto bastante conhecido porque diz
“Tudo tem seu tempo”. Imagino que o texto todo não seja tão conhecido quanto
essa frase. Convido a todos a, um dia, lerem o belo livro bíblico do Eclesiaste.
É bastante diferente de muitos outros que compõem a Bíblia e, na minha opinião,
é especial porque fala diretamente da vida – essa que recebemos de graça e com
a qual temos imensa responsabilidade.
A frase que
li inicia o terceiro capítulo de Eclesiaste. Não vou lê-lo inteiro, mas
parafraseá-lo, já me desculpando pela licença poética que me impus. Vou trazer
os versos que significam para mim neste momento de formatura da turma de 2014.
Tudo tem o
seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
E eu tive o
tempo de, estando na coordenação pedagógica da Educação Infantil, receber Anna
Luíza, Caio, Marina. Pequenos, vi suas primeiras atividades escolares,
desfrutei da agradável surpresa de Claudia, quando o filho Caio aprendeu a ler,
do incentivo constante de Ana Nilva, ajudando Anna Luíza a crescer, vi Lia,
Andreia e Neiva trazerem a segunda cria para a escola (Marina, Karen e
Jonathan), e Delmary chegar com mais membros da família Xavier, ao trazer
Ricardo. E, no ano em que engravidei do meu primeiro filho, vi essa galerinha
chegar à alfabetização e ter sua festa do livro que foi a primeira neste
espaço, em 2003.
E como
também há tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, distanciei-me
desses pequenos e, de longe, vi chegar Glauco, Bernardo, Clara, Caroline, Maria
Clara, Thaís e Victor e alguns outros que não estão aqui nesse palco, mas que,
estão aí na plateia e que, de algum modo, ajudam a contar essa história.
E como há
tempo de chorar, e tempo de rir, reencontrei todos vocês, em 2010, no 8º ano,
quando numa constituição especial pude estar a frente da coordenação pedagógica
dessa série e ser professora de vocês. Acho que vocês não sabem... Mas isso foi
muito importante na minha vida profissional. Foi um desafio e fui muito feliz
ao traçar esse caminho. Como eu amava entrar nos oitavos anos – eram duas
turmas! E lemos, e ouvimos música e aprendemos! Não sei qual a memória de vocês
sobre esse tempo, mas na minha é muito marcante o tema da Feira Integrada
daquele ano, que foi sobre os BRICS (antecipamos algo, hein?) e a partir do
qual pudemos estudar sobre África. Ali, frutificava em mim, algo que me levou a
outros caminhos na minha vida de estudante e professora.
Mas, diz o
texto bíblico, que também há tempo de nascer, e tempo de morrer, tempo de
plantar, e tempo de arrancar o que se plantou e iniciamos o ano de 2011 com a
tragédia climática da região serrana, que atingiu severa e duramente a nossa
cidade, arrancando de nós a amada Maria Victória, que fazia parte desse grupo e
poderia estar aí junto de vocês. Arrancou de nós, também, nosso espaço: nossa
escola, fisicamente afetada teve de se instalar, temporariamente, em outro
local. E fomos viver os anos de 2011 e 2012, com Jéssica chegando ao nosso
meio, entre o tempo de espalhar pedras e o tempo de juntar pedras... Até que
nosso espaço foi restabelecido e com imensa alegria retornamos a nossa casa!
Felizes,
iniciando 2013 de volta ao lar, com Rebecca fazendo parte desse grupo, chegamos
a um tempo de prantear, quando fomos surpreendidos com as notícias sobre Caio.
Um pranto de susto, mas um pranto de fé e esperança. E depois dele veio o tempo
de dançar e celebrar a vitória da vida!
2014 chegou
trazendo Tainá! E o ENEM pra valer e os vestibulares, e as definições, e
maiores esforços, e mais cansaço, e mais alegria – é o último! E cada dia
marcava o fim de um ciclo, ao mesmo tempo em que anunciava o início de outro.
Quero
terminar, me remetendo a um dos trechos finais do texto bíblico. Depois de ir
listando, como em versos, as vivências que todo ser humano enfrenta nas suas
experiências diárias, o auto do texto nos aponta uma direção. Longe de uma
receita, que me dá instruções a serem seguidas, as palavras soam, a mim, mais
como conselho... E os deixo a vocês na noite de hoje: “Que todo homem coma e
beba” (satisfaça suas necessidades básicas), e goze do bem de todo o seu
trabalho (mais do que sobreviva, que tenha vida plena, com compromissos, mas
com prazeres); isto é um dom de Deus (porque vida em abundância é uma promessa
e está em nossas mãos desfrutá-la).
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