quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

“Tudo tem seu tempo e há tempo para todo propósito debaixo do céu”

Uma mensagem para os formandos do Ensino Médio do Educandário Miosótis – turma de 2014 

Hoje é um dia de festa. Mas é também um dia de despedida. É estranho essas duas coisas estarem juntas, mas uma formatura é paradoxal mesmo: traz à tona o passado e o futuro no momento presente.
E eu não poderia deixar de falar para vocês. Sobre o futuro, não. Sobre esse, vocês mesmos virão falar daqui a muito pouco tempo. E eu tenho certeza de que as notícias serão lindas, de muitas conquistas, de caminhos árduos, de lágrimas e sorrisos, instantes tristes e muitas alegrias. Aguardo – aguardamos – cada um desses relatos com ansiosa esperança. Vocês são privilegiados por estarem aqui, concluindo o ensino médio tão jovens, por terem família e um lar. Já são vitoriosos... Precisam, agora, aprender a traçar seus próprios caminhos e se empenhar na caminhada.
Quero, no entanto, falar de passado. “Trazer a memória o que me dá esperança”, como diz o profeta, no texto bíblico. E é a partir da Bíblia que quero refletir. Não do livro sagrado, usado por judeus e cristãos no mundo todo. Quero olhar para a obra literária que é a Bíblia e escolhi um texto bastante conhecido porque diz “Tudo tem seu tempo”. Imagino que o texto todo não seja tão conhecido quanto essa frase. Convido a todos a, um dia, lerem o belo livro bíblico do Eclesiaste. É bastante diferente de muitos outros que compõem a Bíblia e, na minha opinião, é especial porque fala diretamente da vida – essa que recebemos de graça e com a qual temos imensa responsabilidade.
A frase que li inicia o terceiro capítulo de Eclesiaste. Não vou lê-lo inteiro, mas parafraseá-lo, já me desculpando pela licença poética que me impus. Vou trazer os versos que significam para mim neste momento de formatura da turma de 2014.
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
E eu tive o tempo de, estando na coordenação pedagógica da Educação Infantil, receber Anna Luíza, Caio, Marina. Pequenos, vi suas primeiras atividades escolares, desfrutei da agradável surpresa de Claudia, quando o filho Caio aprendeu a ler, do incentivo constante de Ana Nilva, ajudando Anna Luíza a crescer, vi Lia, Andreia e Neiva trazerem a segunda cria para a escola (Marina, Karen e Jonathan), e Delmary chegar com mais membros da família Xavier, ao trazer Ricardo. E, no ano em que engravidei do meu primeiro filho, vi essa galerinha chegar à alfabetização e ter sua festa do livro que foi a primeira neste espaço, em 2003.
E como também há tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, distanciei-me desses pequenos e, de longe, vi chegar Glauco, Bernardo, Clara, Caroline, Maria Clara, Thaís e Victor e alguns outros que não estão aqui nesse palco, mas que, estão aí na plateia e que, de algum modo, ajudam a contar essa história.
E como há tempo de chorar, e tempo de rir, reencontrei todos vocês, em 2010, no 8º ano, quando numa constituição especial pude estar a frente da coordenação pedagógica dessa série e ser professora de vocês. Acho que vocês não sabem... Mas isso foi muito importante na minha vida profissional. Foi um desafio e fui muito feliz ao traçar esse caminho. Como eu amava entrar nos oitavos anos – eram duas turmas! E lemos, e ouvimos música e aprendemos! Não sei qual a memória de vocês sobre esse tempo, mas na minha é muito marcante o tema da Feira Integrada daquele ano, que foi sobre os BRICS (antecipamos algo, hein?) e a partir do qual pudemos estudar sobre África. Ali, frutificava em mim, algo que me levou a outros caminhos na minha vida de estudante e professora.
Mas, diz o texto bíblico, que também há tempo de nascer, e tempo de morrer, tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou e iniciamos o ano de 2011 com a tragédia climática da região serrana, que atingiu severa e duramente a nossa cidade, arrancando de nós a amada Maria Victória, que fazia parte desse grupo e poderia estar aí junto de vocês. Arrancou de nós, também, nosso espaço: nossa escola, fisicamente afetada teve de se instalar, temporariamente, em outro local. E fomos viver os anos de 2011 e 2012, com Jéssica chegando ao nosso meio, entre o tempo de espalhar pedras e o tempo de juntar pedras... Até que nosso espaço foi restabelecido e com imensa alegria retornamos a nossa casa!
Felizes, iniciando 2013 de volta ao lar, com Rebecca fazendo parte desse grupo, chegamos a um tempo de prantear, quando fomos surpreendidos com as notícias sobre Caio. Um pranto de susto, mas um pranto de fé e esperança. E depois dele veio o tempo de dançar e celebrar a vitória da vida!
2014 chegou trazendo Tainá! E o ENEM pra valer e os vestibulares, e as definições, e maiores esforços, e mais cansaço, e mais alegria – é o último! E cada dia marcava o fim de um ciclo, ao mesmo tempo em que anunciava o início de outro.

Quero terminar, me remetendo a um dos trechos finais do texto bíblico. Depois de ir listando, como em versos, as vivências que todo ser humano enfrenta nas suas experiências diárias, o auto do texto nos aponta uma direção. Longe de uma receita, que me dá instruções a serem seguidas, as palavras soam, a mim, mais como conselho... E os deixo a vocês na noite de hoje: “Que todo homem coma e beba” (satisfaça suas necessidades básicas), e goze do bem de todo o seu trabalho (mais do que sobreviva, que tenha vida plena, com compromissos, mas com prazeres); isto é um dom de Deus (porque vida em abundância é uma promessa e está em nossas mãos desfrutá-la). 

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