Quando aprendemos algo, toda a nossa cognição é estimulada, num
belo trabalho do nosso sistema nervoso, com as sinapses que nosso cérebro
realiza, estimulando os neurônios e produzindo toda uma reação racional que
redundará em conhecimento.
Junte-se a isso, a experiência psíquica que ocorre no
processo de aprendizagem. Todos sabemos que quanto maior é nossa relação
afetiva com o conhecimento adquirido, melhor será o fruto desse aprendizado.
O que aprendemos, no entanto, necessita de tempo para ser
construído. A construção não se dá no ineditismo de um novo conhecimento, mas
nas novas relações e associações que fazemos com ele e a partir dele. Isso é
construção e, como tal, se pensarmos metaforicamente, necessita de uma boa base
(a do estudo) para que, sobre sólidos alicerces, seja erguida toda a estrutura,
que terá a 'cara' do arquiteto. É aí que entram a inteligência e a criatividade
pessoais. Não se trata, na maioria dos casos, de se criar um conhecimento novo,
mas da forma como ele se reelaborado por cada indivíduo em particular.
É interessante o momento em que descobrimos que temos, de
fato, conhecimento sobre algo. É quando realmente podemos dizer "Eu
aprendi". Esse momento não tem a ver, necessariamente, com a realização de
uma prova, seja ela como for. Às vezes, passamos pela prova e só muito tempo
depois nos damos conta de que sabemos sobre aquele assunto ou conteúdo. E a
sensação é sempre maravilhosa!... Aprender é muito bom!
Na mesma esteira de raciocínio, vejo o ensinar. Não é
possível ensinar sem ter aprendido e sempre que ensinamos, aprendemos mais. Ai
daquele professor que for dar uma aula sobre algo que ainda não tenha
aprendido. Acredito que até mesmo uma criança intuirá a respeito disso. Por
outro lado, aquele que já aprendeu, se ficar apenas com seu conhecimento
adquirido num primeiro momento, também não será capaz de ir muito longe para
ensinar. Não só porque o conhecimento em si muda em muitos casos, mas, acima de
tudo, porque a interferência do indivíduo é fundamental para o processo de
aprendizagem.
Ensinar exige abertura para aprender, na minha opinião. E é
algo constante. É claro que quando fazemos um curso, ele tem data marcada para
terminar e espera-se que, ao final dele, tenha-se aprendido o que se propusera
no seu início.
O que estou dizendo, porém, é que – usando o exemplo acima –
é necessário o tempo de amadurecimento daquele aprendizado após o término do
curso. E só quando colocamos em prática aquele aprendizado é que podemos dizer
que, de fato, construímos aquele conhecimento.
Acredito que isso se dê nas mais diversas áreas do
conhecimento, para todas as profissões. Vemos tantas reclamações a respeito de
médicos, por exemplo, e além dos problemas reais no ensino das faculdades de
Medicina pelo país afora, imagino que um problema fundamental seja esse:
diplomado, o médico sai, tendo aprendido tudo sobre sua profissão; mas
necessitará continuar aberto para enxergar as possibilidades diárias de
aprendizado no exercício da mesma, construindo seu conhecimento na lida com
seus pacientes e as situações de saúde/doença.
Tenho de confessar, contudo, que acredito que a dialética
entre ensinar e aprender para um professor é a bela mais de todas. Porque o
papel do professor é ensinar e ele precisa se dedicar a isso de maneira
coerente, justa, serena. Competente.
A palavra competência tem várias vertentes: pode referir-se à
aptidão, ao designar a qualidade de quem é capaz de resolver determinados
problemas ou de exercer determinadas funções; à idoneidade, quando estamos
perante um sujeito capaz de avaliar algo ou alguém. Em qualquer dos casos, é
possível que relacionemos a palavra ao papel do professor. Ele deve ser capaz
de resolver determinados problemas – os da aprendizagem de seus alunos – e de
exercer determinadas funções – as de promover essa aprendizagem, entre outras
tantas que se colocam para o professor nos dias de hoje -; ao professor, cabe
‘julgar’ se o aprendizado se deu e em que medida. Para Jean Piaget, “O professor
não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria
situações-problemas.”.
Acredito, todavia, que na essência do ato de ensinar está o
de aprender. A cada vez que o professor planeja uma aula e busca textos,
informações, imagens (visuais ou não), ele aprende mais um pouco sobre aquilo
que vai ensinar. A cada aula realizada, a partir da interação com os
estudantes, se eles são realmente estimulados a construírem seu conhecimento a
partir do pontapé inicial do professor, o ensino volta-se também para o
professor.
A sala de aula é um ambiente rico de experiências e
significados. E é um ambiente singular, pois há situações que só podem ocorrer
em virtude daquele ambiente. Ao mesmo tempo, é um ambiente plural, porque a
despeito de todos estarem reunidos para aprender sob a orientação de um que
está preparado para ensinar, as relações no processo ensino-aprendizagem vão
além desses papéis previamente determinado.
Chegamos a mais um Dia do Professor. Com tantas manifestações
pelo país, reivindicando melhores condições de trabalho. Aos meus colegas,
desejo a renovação de suas forças - psíquicas, intelectuais – para a certeza do
quão transformadora pode ser sua atuação na vida dos estudantes. Que , ao
ensinar, possamos realizar nosso papel de modo ético e competente, ocupando
nosso espaço. Assim, quem sabe, possamos continuar acreditando na transformação
da sociedade. E, ao ensinar, possamos também aprender, nas palavras de
Guimarães Rosa:
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.”
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