sábado, 5 de abril de 2014

Dar o primeiro passo

Escrevi este texto no dia 06 de outubro de 2013. Achando que ele ainda não estava pronto, não o publiquei. Ficou assim, sem ter exatamente um fim (uma conclusão).
Relendo-o agora, seis meses depois, percebo que quero dizer isso, sim, sobre o elogio, sobre a satisfação pelo esforço empenhado, sobre a vaidade. Estou, via academia, num mundo de vaidades. Mas tenho clareza do que desejo nesse mundo e sentindo-me feliz por essa escolha. Seis meses depois, há impressões que continuam tal e qual naquela primeira semana de aula; outras, porém, ganharam novas cores. Há aspectos ainda assustadores para mim; e, com relação a algumas circunstâncias, percebi que não há mesmo nenhum ‘bicho-de-sete-cabeças’. Felizmente. É mesmo somente (!) vida real.
Verdade é que os desafios estão aí e precisam ser vencidos. A luta é grande, árdua, às vezes, mas continuo crendo que vale a pena.
É o que diz essa música que amo (especialmente porque o compositor é nordestino e tanto na sua voz quanto na de Elba Ramalho, a música fica com o maravilhoso sotaque que me relembra minhas origens...):
“Se avexe não
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá

Se avexe não
Observe quem vai subindo a ladeira
Seja princesa ou seja lavadeira
Pra ir mais alto vai ter que suar”
(A natureza das coisas – Flavio José)

Nova Friburgo, 06/10/13.

Receber elogios é sempre muito bom. Faz um bem enorme ao ego ser reconhecido por algo que se fez, pela aparência que se apresenta, pelo que se é. Quando o que motiva o elogio foi planejado, então é ainda melhor. Significa que pensamos certo, que planejamos bem e que atingimos um determinado objetivo.
Quando idealizamos algo e colocamos em prática, quando trabalhamos com dedicação e realizamos algo, um elogio é o que todos desejamos receber, pois indica um reconhecimento e isso é importante para fazer com que continuemos a nos empenhar em uma causa.
Mas há um lado do elogio que é muito perigoso. É muito tênue a distância entre se sentir feliz e realizado por receber elogios e se envaidecer. Entendo perfeitamente porque a vaidade é um “vício”: ela atrapalha que nos enxerguemos como verdadeiramente somos e nos transveste de algo que gostaríamos de ser, que buscamos alcançar, mas que ainda precisamos continuar buscando.
Em seu livro “Sobre a vaidade”, Montaigne afirma: “Seja o que for, artifício ou natureza, isso que nos imprime a condição de viver da comparação com outrem, faz-nos muito mais mal que bem. Privamo-nos daquilo que nos é útil para atender às aparências e à opinião dos outros. 
Nesse sentido, a vaidade é um mal. Ela pode nos mostrar uma autoimagem que não é verdadeira, pois apresenta apenas um recorte. Assim como se subestimar é ruim e tira o indivíduo de seu “eixo”, se superestimar – que pode ser a consequência da vaidade – também desequilibra. Ninguém é tão bom nem tão ruim. E mais sério do que isso é deixar-se levar mais pela avaliação do outro, pelo que desejamos “parecer” mais do que pelo que “somos” de fato.
Lembro-me do filósofo Mario Sergio Cortella falando sobre a palavra perfeição. Segundo ele, é uma palavra de origem grega que significa “feito por inteiro”. Então, a perfeição é mesmo uma busca constante, mas ao chegarmos a ela é porque chegamos ao fim. Se tudo se fizer por inteiro, ou seja, completamente, não haverá mais o que fazer. A perfeição é, nesse sentido, uma utopia. E caminhar almejando-a nos leva a querer melhorar a cada dia, estando atentos para que a vaidade não nos paralise.
Pensei muito sobre tudo isso na semana que passou. Acabo de concretizar um novo projeto e, ao saber sobre ele, as pessoas gostam muito e o elogiam. Elogiam minha iniciativa, meu projeto. E isso é muito satisfatório. Fiquei feliz e isso me deu prazer.
Paradoxalmente, vivi uma outra experiência de iniciativa própria, de um outro modo. Tive minha primeira semana de aula no Mestrado. Depois de ter me preparado dedicadamente ao processo seletivo, ter tido um bom resultado, ter recebido muitas felicitações, chegou a hora do “Vamos ver”.
E foram tantos sentimentos que eu não saberia descrevê-los num único texto... Talvez precise de outros, em outros momentos, para ir dando conta de tudo que senti.
É o Rio de Janeiro, de novo na minha vida, de um modo de que tanto gosto.
É continuar estudando, no tipo de ambiente de que gosto tanto – a sala de aula.
É sentir a própria pequenez diante dos conhecimentos de todos os outros que me rodeiam, os professores – mestres e doutores – e meus colegas, tão dedicados e estudiosos quanto eu.
É sentir a grandiosidade do pequeno gesto de se dispor a estudar e tudo o que pode vir em consequência.

É estar diante das complexas relações de uma vida acadêmica dentro do que é a vida real: filhos, marido, casa, família, amigos, trabalho, alunos...

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