Detesto o inverno. Não sabia bem o que era isso até chegar a
Friburgo, em 1983, com quase dez anos de idade. Era primavera, mas estava frio.
No meu aniversário, em dezembro, senti frio. Senti frio durante o restante do
verão e no outono. Subia e descia as inclinadas ruas do bairro de Olaria, com o
frio queimando as bochechas e aprendi a brincadeira de fazer sair fumaça pela
boca, sem estar fumando – tão baixa era a temperatura. Quando o inverno chegou,
foi terrível a minha experiência e a de minha família. Todos nós – até hoje! –
detestamos o frio. Para piorar, fomos morar numa casa nos fundos de uma
garagem, com pouca ventilação. Rapidamente descobrimos o que era mofo e
conhecemos pulgas. Quase todo o restante que nos aconteceu nessa cidade foi
melhor do que esperávamos. Mas o frio – ah, esse frio – foi uma vivência ruim.
Detesto o inverno. Acho que a origem está aí, no que foi dito
acima; uma espécie de trauma. Detesto tudo: ter de vestir roupas pesadas, que
encobrem, escondem, pesam, aprisionam. O vestuário mais austero que o inverno
proporciona me soa chique demais, com pouca simplicidade e isso me incomoda,
embora reconheça que, estando bem-vestido no inverno, a aparência é fantástica.
Coincidentemente, no inverno vivi algumas experiências marcantes e
dolorosas: num mês de junho, sofri aborto na minha primeira gravidez – uma dor física
e emocional inesquecível; em dois agostos consecutivos, vivi descobertas
doloridas; e, no junho-julho mais recente, uma “surpresa esperada nada
agradável”... A vida e seus tropeços, dores e sofrimentos...
Mas, curiosamente – olha a vida surpreendendo de novo! – já vivi,
no inverno, alguns dos momentos mais especiais e maravilhosos da minha vida:
casei-me em julho e também neste mês meu primeiro filho nasceu. Em dois
invernos muito distantes entre si, tive a oportunidade de sair do país: em
1996, passei 20 dias na Carolina do Sul, nos EUA, num programa missionário da
Igreja Metodista; dez anos depois, passei uma semana na casa de amigos na
Alemanha. Nos estudos, cursei pós-graduação nas férias de julho, em dois
momentos distintos, e isso ajudou a aquecer meus dias de inverno (da primeira
vez, em Belo Horizonte; depois, em Nova Friburgo. Foi no inverno de 2011 que,
de repente, decidi partir para a terceira pós-graduação e prestei o processo
seletivo; no inverno mesmo, passei e comecei a estudar – e amei!
Sei que tudo isso é, de certa forma, uma grande bobagem, quase uma
superstição que criei/adquiri sobre o inverno. Há tantas pessoas que são
felizes nessa estação! Isso, como tanta coisa na vida, é uma questão de gosto.
E “gosto não se discute”.
No entanto, temo sempre pela chegada do inverno. É com certa
tristeza que vejo a temperatura caindo e o frio chegando... Mas, sei bem, sem
passar pelo inverno, não há a primavera!
Espero ansiosamente o inverno acabar. E, antes mesmo que ele vá
embora, já começo a me sentir feliz, só de chegar setembro. Que bom que ele já
está aí. Tenho muitos planos... Tomara que, assim como as plantas florescerão
mais uma vez, as esperanças se renovem. As flores darão frutos e as esperanças
trarão novas realizações. É o que eu desejo.
“Se
não tivéssemos inverno, a primavera não seria tão agradável:
se
não experimentássemos algumas vezes o sabor da adversidade,
a
prosperidade não seria tão bem-vinda.”
Anne
Bradstreet
Eu também não gosto do inverno nem de andar toda coberta nesta época. Sinto muito receio de como será quando eu for morar em Friburgo porque eu eu sou nitida e realmente mais feliz no verão. É físico e emocional: acordar, ver aquele céu azul, sem nenhuma nuvem, tomar um banho refrescante, jogar uma sandália e um vestido no corpo me trazem uma alegria celestial. Sinto vontade de viver com força. Não sei explicar. O inverno me deixa mofada, agasalhada, presa dentro de casa. O Verão me liberta, me sopra vida no rosto e eu agradeço por poder ver tudo isso longe de um hospital. Que bom que Setembro chegou. Penso como você. Belo post, Marcinha!! Beijos
ResponderExcluirOlá Márcia. É a primeira vez que estou lendo seu blog e me encantei com a sua sensibilidade, inteligência e seu amor pela leitura e escrita. Sensibilidade e inteligência talvez eu não possua, mas certamente, amor por ler e escrever já faz parte da minha vida desde que eu era criança.
ResponderExcluirRecebi um email de uns amigos do Centro de Estudos Bíblicos sugerindo uma Oficina de Leitura e confesso que fiquei desestimulada quando vi que será em Friburgo (moro no Rio). Mas ao ler seus textos, vi que poderia ser uma oportunidade para conhecer pessoas com quem eu possa compartilhar o gosto pela palavra. Pretendo ir dia 15 próximo e torço para que você também possa estar lá.
Ah! Temos um ponto oposto: eu adoro frio! Mas os opostos se atraem, não?
Grande abraço
Marilda Teixeira