Na semana passada, participei da
Oficina “Mediação de Leitura”; hoje, na de “Escrita Criativa”, do Festival de
Inverno do Sesc.
Como amo ler e escrever! Já
contei por aqui minha trajetória nessa deliciosa experiência, mediada por meu
pai e minha mãe. Na escola, encontrei professores especiais que me incentivaram
e aproximaram ainda mais desse ambiente. Como esquecer de “A fada que tinha
ideias”, “Memórias de um cabo de vassoura” e “A bolsa amarela”?
E como o que amo são as palavras,
a poesia da boa música também me encanta. E vem de berço: meu pai é um amante
da MPB e passei os domingos da minha infância ouvindo os vinis que ele colocava
para tocar na vitrola (na verdade, uma radiovitrola, que, nordestinamente
chamávamos de “radiola”, para horror das minhas tias que queriam fazer bonito
na vida carioca).
Tinha de tudo naquela coleção de
compactos e long plays: Agnaldo Timóteo, Angela Maria, Antonio Marcos,
The Fevers, Os Incríveis, Jovem Guarda,
Elis Regina, Dicró, Roberto Carlos
(uns 30!) e outros tantos que não me vêm à memória agora; até Benito de Paula (“Estou na cidade grande/e
a saudade é tamanha/quero ver se volto pra serra/eu sou homem da montanha”-
quem diria que seríamos nós a subir a serra, anos depois!). As músicas?
Conheço-as como deve ser aquilo que aprendemos com amor: de cor; devidamente
gravadas na memória do meu coração...
Não havia grande repertório
infantil, mas aprendi na escola e em casa as cantigas de roda e as músicas
folclóricas que pude ensinar aos meus alunos e hoje canto com meus filhos. Mas
assisti, na TV, aos programas que apresentaram as versões musicais dos poemas
de Vinicius de Moraes, que até hoje
são publicados em livros e CD – “Arca de Noé”. Depois, ainda peguei a fase dos
primeiros grupos musicais para criança e desfrutei de boa música, especialmente
com o Balão Mágico.
No Colégio Canadá, em meados da
década de 1980, nas aulas de Música com a professora Lisete, aprendi “A Banda”,
“Roda viva”, “Águas de março” e nunca mais esqueci. Com a professora Raquel
Nader, li alguns dos contos de Shakespeare
e mergulhei nos seus clássicos personagens. Com a professora de Geografia Maria
do Carmo Nader, conheci Desmond Tutu e
Mandela – e até hoje esses nomes me
emocionam e suas histórias aguçam minha curiosidade e meu interesse.
No Ensino Médio, pude ler “A
Madona de Cedro” e “O Encontro Marcado”. E comecei a ouvir Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Milton Nascimento. Pouco depois,
descobri Chico Buarque e foi amor
eterno!
Muitas outras descobertas vieram
no começo da minha juventude – mas a base está descrita acima.
É claro que li os romances de
banca de jornal, assim como ouvi a música sertaneja começando a ficar famosa
com Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano (tenho o primeiro LP, de
1990, com “É o amor”!). Amei também Fábio Jr e dancei lambada. Afinal, como
qualquer adolescente normal, fui influenciada pelos modismos da minha época. Só
não joguei fora o que aprendera de bom. Herança cultural é algo a ser cuidado e
preservado, tanto quanto a herança material.
Meus filhos hoje vivem uma
infância que sofre a influência de uma cultura eclética e tão bem planejada que
sequer se dedica às crianças: os pequenos ouvem e curtem aquilo que qualquer
adulto ouve e curte. É importante ressaltar, porém, que o “aquilo” trata-se de
material duvidoso do ponto de vista da Arte: “Eu quero tchu/Eu quero tcha/Eu quero: tchu tcha tchá thu
cu thu cu tchá, tchu tchu tcha tchá” é um exemplo. E, infelizmente, não
é o único...
Meu esforço para lhes oferecer
uma herança cultural, então, é imenso. Sem proibir os “tchu-tcha” da vida, mas
sem incentivá-los, vou buscando outras experiências com músicas, filmes, livros
que estejam além da mera lógica do mercado, que só incentiva o consumismo
desenfreado. Quero mostrar-lhes algo que seja útil para seu aprendizado e ensiná-los
sobre estética e apreciação. Cultura, sim; e fruição, que é o objetivo principal
da boa arte.
Dessa forma, também mostro aos
meus herdeiros a importância das palavras. Que elas expressam sentimentos, transmitem
conhecimento, revelam pensamentos e que devemos saber usá-las e ouvi-las. Quero
ensinar que, acima de tudo, se forem boas palavras elas nos ajudam a crescer em
sabedoria a cada dia, todos os dias.
Victor Hugo
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