domingo, 15 de julho de 2012

Família e Eu


Assisti hoje, pela primeira vez, ao filme “Marley e Eu”. Já ouvira falar muito sobre a beleza e as estripulias do cão do filme – o labrador Marley. Todo mundo que viu o filme se refere a esse aspecto da obra. E nada havia me preparado para o que, de fato, é tratado na história.
O cão é mesmo belo e suas estripulias – próprias de um labrador – são de “chorar de rir” para quem está do lado de cá da telinha; sim, porque para quem vivencia a experiência de ter um cão dessa raça, a vontade é de chorar mesmo, de tristeza ou indignação. Já tive duas labradoras no passado e a linda Mel, que desde fevereiro faz parte de nossa família, é mais um exemplar. E, em poucos meses, já perdi a conta dos tapetes, chinelos, panos de chão etc que foram comidos por ela. Além, é claro, das correrias diárias em busca de retirar algo de sua boca que não deveria estar lá.
Mas o filme é MUITO mais do que isso. O enredo trata de um casal que, pouco depois de se casar, decide ter um cachorro. Ali, sua família começa a ser construída e o filme vai mostrar os anos seguintes até a morte do animal, na sua velhice. Família, então, é a palavra-chave. Sobre como se decide “construir” uma família, sobre sentimentos e experiências compartilhados, sobre cumplicidade e lealdade, sobre amizade e amor. E sobre o tempo e o que ele faz com cada indivíduo – com seus planos e sonhos.
No filme, chegam os filhos (três!) e, com sutil humor, mostra-se o drama da invasão de um bebê (e de cada um dos outros, posteriormente) na vida de um casal. Do paradoxo que é ser mulher/mãe, homem/pai. É sobre a vida e as escolhas a que somos obrigados constantemente. Sobre decidir e a antítese (aqui não dá para ter as duas atitudes ao mesmo tempo, embora, às vezes, os sentimentos sejam mesmo ambíguos e contraditórios) desistir ou persistir.
O filme me tocou profundamente. Pelo Marley, sim. Vê-lo morrer, ao final, da forma singela e bela como é retratado no filme, com o rito vivenciado pelas crianças é emocionante...
Pelo casamento também, porque a história mostra, também de forma simples, que sair descartando as pessoas porque algo não vai bem nem sempre é a melhor saída; tentar consertar pode ser uma boa ideia. E se houver amor, é a melhor e mais acertada. Hoje, quando completo onze anos de casada, e diante das surpresas que a vida me reservou, essa é uma mensagem especial para mim.
Confesso, porém, que o mais me mexeu comigo foi a questão da família. Falava sobre isso semana passada com algumas passadas: essa é A instituição. Sua cara pode ter mudado, mas ela continua essencial para o crescimento de pessoas sadias – emocional, cognitiva, cultural, moral, intelectualmente. E ainda depois de termos crescido, ela continua sendo alicerce que precisa ser sempre cuidado, pois a base nunca pode ser abalada. Como em todas as relações, numa família é preciso cultivar o amor ou ele se perde em meio a obrigações e conveniências; esquecido, no fundo do coração, a família adoece. A saúde da família adulta, mais do que na convivência, está nos laços. E como há pessoas que criam nós...

Digo isso porque não sou o tipo de pessoa que fala com sua família todos os dias. Moro ao lado de minha mãe e irmã, mas é possível que passemos um ou dois dias sem nos falar. No último mês, no entanto, comprovei o que já percebera: esse distanciamento não nos separa. Os laços estão preservados. 
Por motivos muito pessoais, estou numa fase de ter de conversar muito intimamente com meu pai, minha mãe e minha irmã. Distanciados pelos compromissos de trabalho, pela rotina que consome, pela geografia (papai mora em outra cidade; minha irmã vai mudar de casa em breve), NUNCA separamos nossos corações. Aprendi, desde criança, a cultivar a proximidade, ainda que com todo respeito às individualidades. Não abro mão da minha autonomia e cada um deles sabe bem disso. Mas sei que posso contar com eles. E conto. E é recíproco. E isso consola e conforta. Não retira o sofrimento; no entanto, ajuda a vivê-lo, como tem de ser.
Peço a Deus, todos os dias, sabedoria e discernimento para transformar a relação de sangue que tenho com meus filhos em relação de amor. Que eles saibam honrar pai e mãe, como diz a Bíblia, pois creio que, assim, serão pessoas de honra. Mais do que isso, porém, que o amor seja nossa aliança e que isso os ajude a crescer em “graça e sabedoria”, como o Menino Jesus. Que o amor seja o seu conselheiro maior, pois “Deus é Amor” e lhes conduza por caminhos de paz, mesmo nos momentos de dor.
Hoje, no aniversário do meu casamento, quando, simbolicamente, foi iniciada uma nova família, minha oração é a de que o amor que me uniu a Ricardo há onze anos mantenha-se forte na missão de cuidar de Miguel e Augusto e a ajudá-los a serem seres humanos felizes – hoje e sempre. E que esta família tenha seus laços fortalecidos, “na saúde e na doença, na tristeza e na alegria”.
Amém!
 “Um cachorro não precisa de carrões, de casa grandes ou de roupas de marca. 
Um graveto está ótimo pra ele. 
Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, esperto ou idiota,
 inteligente ou burro. 
Dê seu coração pra ele e ele lhe dará o dele. 
De quantas pessoas você pode falar isso? 
Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro ou especial? 
Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?”
(Texto da última cena do filme “Marley e Eu”)


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