“Fé é o firme fundamento das
coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem”. Hebreus 11:1
O ditado diz “Nadar, nadar e morrer na praia”. Não
sei nadar e tenho medo da água. Por isso, qualquer referência à água significa,
para mim, esforço e dedicação. Mas sei que ditado é pura metáfora e sei que eu
nado em muitos espaços, mesmo sem uma gota de líquido. É assim a vida.
E porque é assim, a vida dá medo, às vezes. E se nos
esforçarmos, tentarmos, buscarmos e, depois de toda a caminhada, não conseguirmos?
E se voltarmos ao ponto inicial? Parece derrota... Sim, se pensarmos que a vida
é competição.
Acho, porém, que a competição é sempre, acima de
tudo, conosco mesmos. É desafio. É luta com – ou contra – nossos próprios
sonhos, nossos próprios defeitos, nossas próprias limitações, nossos anseios e
nossos receios. Às vezes, inventamos outros competidores, verdadeiros
opositores à realização dos nossos desejos. Mas eles só existem em parte. O
tempo todo, a briga é nossa – eu comigo mesmo. Por isso é tão difícil, Por isso
dói tanto.
Hoje ouvi pela primeira vez a música “Medo”, de
Lenine. Um tapa na cara atrás do outro. Porque temos medo de sentir medo e
erramos por causa desse medo. Às vezes para mais; outras vezes para menos. O
medo não é companheiro, embora nos acompanhe em muitos momentos da vida.
“O medo é a medida
da indecisão”, diz um dos versos da música. Por causa dele, paralisamos. Mas
assumir responsabilidades e consequências faz parte do desafio da vida; é
acreditar que se não é possível refazer algo, pode-se começar de novo, de um
outro jeito, com a chance de ser melhor.
Lembrei-me de outra música, esta
de Oswaldo Montenegro: “Lembra se puder; se não der, esqueça/De algum jeito vai
passar”. Mas dá medo.
O que vou dizer agora pode parecer
piegas, mas vou correr o risco: acredito no amor e na sua força para vencer o
medo. A possibilidade de perder meu amor me dá medo. Ao mesmo tempo, acho que
corajosamente, penso: não se perde um grande amor; ele é ganho para sempre,
embora eu mesma não compreenda a amplitude do que isso significa. Só creio
nisso. Às vezes mais; às vezes menos. Mas creio.
Porque creio nisso, não acredito
que a vida seja competição, por mais ingênuo que isso possa soar. E não
acredito que “morrer na praia” seja derrota. É consequência, com certeza. Sobre
a qual quase nunca temos controle, já que não fazemos nada sozinhos.
Condicionados, influenciados, contagiados pelo outro – ou seja que palavra for
– não dá bem para dizer que é uma responsabilidade individual. Ajuda, na hora
de dividir os danos... É maravilhoso, no momento de somar as alegrias!
Afirmar isso, é muito caro para
mim. Sou uma pessoa autônoma e quero ter as redás da minha vida em minhas mãos.
Não quero deixar de agir assim. Mas aprendo, a cada dia mais, que isso é uma realidade
em parte. E aí dá medo: “Medo de (...) perder a rédea, a pose e o prumo”.
Entretanto, justamente em respeito
a minha autonomia, no lugar do ditado, eu usaria o verso “Medo
de morrer na praia depois de beber o mar”. É morrer na praia – finalização de
uma tentativa. No entanto, é “depois de beber o mar” – é após ter vivido a
plenitude... É só imaginar a imensidão do mar... Que pode ser comparado à vida,
com suas calmarias e suas tempestades. É só imaginar alguém sedento, que
consegue a oportunidade de beber...
E, por fim, para alento próprio, é pensar que é
possível vencer o medo e ser feliz. Mesmo sem se poder responder ao “Como?”. É
lutar para decidir sobre os paradoxos “Medo de se arrepender/Medo de deixar por
fazer” e “Medo de se amargurar pelo que não se fez/Medo de perder a vez”. É
viver!
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