domingo, 12 de fevereiro de 2012

Professora brilhante - educadora verdadeira

“Educadores, onde estarão? (...) Professores há aos milhares.
Mas o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor.
Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação.
E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.
Profissões e vocações são como plantas.
Vicejam e florescem em nichos ecológicos,
naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e - quem sabe? - necessárias.”

Rubem Alves, Conversas com quem gosta de ensinar

O ano era 1994. Era o primeiro dia de aula da turma de Pedagogia. Eu estava ansiosa!
A primeira aula foi numa sala grande, no prédio antigo. Difícil de achar para quem está chegando na faculdade (e às vezes também para quem já está há muito tempo!).
A turma era grande, toda do mesmo curso, todos no primeiro período. Todas mulheres.
Então ela entrou. Bonita, vestida de forma simples, com uma pasta e muitos livros na mão. Séria.
A disciplina era História da Educação. Logo de cara, conversou sobre o programa, assustando-nos enquanto nos falava sobre provas, leituras, trabalhos... Com seu sotaque nordestino e grande rapidez na fala. Parecia que jamais conseguiríamos acompanhá-la devidamente!
Na beirada do quadro-negro, onde se apóia o apagador e o giz, ela colocou seus livros – de ponta a ponta do quadro... E falou sobre cada um deles!
Como era sábia aquela professora! Conhecia cada autor (Paulo Freire, Moacir Gadotti, Demerval Saviani...) e tantos assuntos! Esbanjava cultura...
Na aula seguinte, trouxe um mapa para a sala de aula. E investigou se tínhamos uma noção geográfica mínima. Todas tensas, ainda mais assustadas que na aula anterior. Mas ela soube respeitar nossa ignorância, sem deixar de dizer que era necessária superá-la.
O primeiro trabalho era sobre Egito e eu não consegui entregar na data combinada. Coisas de quem ainda está se adaptando à faculdade. Nervosa, procurei-a para explicar e saber o que fazer. Com tranquilidade, ela me orientou a não cometer este erro novamente, deu-me um outro prazo, mas foi justa com minhas colegas, atribuindo valor menor ao me trabalho. Mais sabedoria!
Professora didática: escrevia muito no quadro, sempre de forma muito organizada e, depois, falava, falava, falava. Sobre o conteúdo, sobre atualidades, sobre cultura. E estimulava nossa fala. Aulas maravilhosamente ministradas no bom e velho “cuspe e giz”.
E veio a primeira prova. Estávamos aflitas, porque o conteúdo era grande e, se a linguagem oral da professora era rebuscada, ficávamos imaginando como seria a escrita...
Questões discursivas. Todo o assunto trabalhado em sala. Era necessário ter prestado atenção às aulas. Era preciso ter estudado de fato, lido, pesquisado. Mas ela estava lá. Também durante a prova, havia a oportunidade do aprendizado. Escreveu e quer saber se aquele era o caminho para a resposta? Era só perguntar: ela confirmava! E mais, discutia sobre o que estava escrito – dava aula na hora da prova! Mestre verdadeira.
Depois vieram as leituras de livros (sempre nada fáceis) – Paulo Freire, Moacir Gadotti, Demerval Saviani, Francisco Larroyo, Frei Betto, Leonardo Boff; vieram também as discussões sobre os assuntos e as outras provas. Foram dois anos inteiros... um período maravilhoso e inesquecível para mim.
Com ela, aprendi a descobrir a biblioteca da faculdade, a juntar dinheiro para comprar livros, a querer ler e desvendar o mundo, muito além dos conteúdos e exigências de suas aulas.
Não era superprotetora. Alguns ficaram – e ficavam a cada semestre – para trás, porque negligenciavam o conhecimento que ela propunha trabalhar.
Era verdadeira educadora – preocupada com nossa formação profissional e humana.
Neli Ferreira, professora da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia – minha professora inesquecível!

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