segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A simplicidade de um feliz Natal

Simplicidade. Palavra pouco valorizada, virtude fora de moda. O importante neste nosso mundo pós-moderno é não ser simples. Os atos, gestos, cheiros, gostos, relações precisam ter sempre algo a mais ou não atendem plenamente aos desejos, cada vez menos simples.
Que pena! Nem sempre esse algo a mais é, de fato, de real valor, a despeito do preço que se pagou por ele.
Contraditoriamente, o Natal, que deveria ser a festa maior da simplicidade, sucumbe, cada vez mais, à lógica consumista. O que celebramos no Natal – ou deveríamos celebrar – é o Deus, que de tanto amor aos seus filhos, fez-se como um deles; é o nascimento de um menino pobre, em circunstâncias difícieis, aproximado de outras criaturas da natureza – também criadas pelo mesmo Deus -, cujo anúncio foi auxiliado pelo Cosmos – uma estrela brilhou mais especialmente naquele momento a ponto de colaborar com homens de Bem que queriam conhecer o Menino. Mais simplicidade, impossível... No entanto, rico de significado esse nascimento!
Ao longo dos dois últimos milênios, especialmente a partir do século XVI, a humanidade começou a criar símbolos para representar essa data especial. Partindo de tradições antigas, readaptadas ao Cristianismo, os povos foram marcando a chegada do Natal através de cores, sabores, brilhos, agrados; assim, criou-se toda uma simbologia para a celebração do nascimento de Jesus: a árvore de Natal, com seus enfeites e presentes; os sinos com seus toques especiais; as músicas; as velas; os anjos; a estrela.
Particularmente, adoro o Natal. Desde pequena, lembro-me de sentir grande alegria com os preparativos para essa festa e admirar toda a alegria representada pelas cores e brilhos dos enfeites. Minha mãe sempre foi atenta a isso e nunca faltou uma árvore de Natal em nossa casa, decorada pelas mulheres daquele lar: mamãe, eu e minha irmã. Acho que aprendi aí a primeira lição do Natal: união em família.
Não éramos ricos, mas havia sempre presentes simples para os que estavam mais perto. Meu avô e tias paternos e uma irmã materna, com seu filho e marido sempre fizeram parte de nossa singela comemoração. Os presentes eram algo de que se necessitava – acessórios domésticos, roupas e brinquedos também (necessidade na lista de prioridades das crianças).
Na adolescência, o ritual da reunião familiar para uma ceia foi mantido; os presentes ficaram escassos, pois vivemos tempos de maior dificuldade. Mas descobrimos um outro rito, que permaneceu em nossas vidas: a ida à igreja. Durante anos, como participantes ativos da Igreja Católica, estivemos presentes às missas ordinárias e a todas as do calendário litúrgico, especialmente a do Natal. Penso que veio daí a segunda lição: experiência espiritual.
Adulta, conheci a Igreja Metodista e transferi para aquele espaço minhas vivências, descobrindo novas experiências de conhecimento bíblico e atuação religiosa. E a participação nos rituais litúrgicos foi mantida, inclusive na passagem do Natal.
Casada em 2001, fiz boas e grandes festas de Natal em minha casa. Tudo muito bonito, gostoso, agradável. Tudo foi mudando, porém, com a chegada de Miguel, em 2004 e de Augusto, em 2005. Se por um lado a simbologia que envolve o Natal ganhou ainda maior significado para mim, os rituais consumistas em torno dessa data passaram a me incomodar ainda mais. Preocupada com a educação de meus filhos, fico sempre refletindo sobre a célebre frase que anda pela internet “que filhos queremos deixar para o mundo”.
Não sei tenho uma resposta completa, mas tenho alguns desejos a respeito. Quero que meus filhos se tornem pessoas simples, que busquem a sabedoria e saibam usá-la com discernimento, que sejam tementes a Deus e busquem Nele a direção para seus caminhos, que sejam amigos sinceros e pessoas amorosas com as outras pessoas e com o planeta.
Por conta disso, e só agora mais conscientemente, fui procurando, ao longo dos últimos anos, recriar os meus ritos natalinos. Devagarzinho, melhorando um ano após o outro, a ceia ficou mais simples: roupa que não é a de ficar em casa, em homenagem à data especial, mas que não seja a que redunde em um gasto a mais; pratos típicos, sim, mas somente aqueles dos quais gostamos de fato, nada que seja somente para atender a modismos, evitando o fastio e o desperdício tão comuns nessa época do ano; a árvore e os enfeites são os mesmos já há cerca de cinco anos e compramos novo só que for para substituir algo que se extraviou – não é a novidade da árvore que a fará mais ou menos bela; os presentes vão chegando aos pés da árvore aos poucos, sem a correria das compras de última hora, quando não é possível pensar com calma sobre o que dar a cada um – a razão maior do presente é descobrir algo que agrade, independentemente do valor material, o valor simbólico precisa ser o mais importante; nosso pequenino presépio foi um presente da vovó materna e é montado todos os anos, durante o advento, a espera do Menino Jesus, que só é colocado na manjedoura na noite de 24 de dezembro, durante nosso rito familiar.
No último dia 24 de dezembro, eu e meu marido decidimos deixar a ceia para o almoço de Natal do dia 25. Ficamos junto com as crianças durante quase todo o dia. À noite, fizemos um lanche, com a presença das avós materna e paterna, lemos a Bíblia, oramos e trocamos os presentes. As crianças, em toda sua ingênua simplicidade, que tão firmemente eu e marido procuramos cultivar, sorriram, brincaram, se alegraram e nos alegraram... Era Natal! Nossos irmãos, pais e outros queridos familiares faziam algo parecido em outros lares, mas com o pensamento unido a nós, certamente.
No dia 25 de dezembro, achegou-se a nós também a bisavó materna para um almoço calma e amorosamente preparado, com direito a boa música e agradável conversa. Antes, porém, assim que acordaram, as crianças identificaram os presentes trazidos pelo Papai Noel, que foram escolhidos por ele mesmo; o que dá alegria a nossos filhos é a surpresa e não exatamente o pedido feito e atendido, felizmente. Afinal, a vida é assim, não é mesmo? Nem sempre o que pedimos, recebemos... Mas há gratas surpresas reservadas pela vida que a tornam mais bela e nos ensinam a viver; surpresas que, de alguma forma, estão ligadas ao que somos, em essência.
À noite, um passeio na casa do vovô e mais um pouco de rito e de família...
Posso dizer, sinceramente, que foi um Feliz Natal!

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