segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Crianças e consumismo - "Olhai os lírios do campo"

O Dia das Crianças acabou de passar e ainda estou pensando sobre o seu significado.
Tive uma infância feliz, embora com muita simplicidade. Os brinquedos sempre foram os mais baratos e chegavam somente em dias especiais. Mas havia brinquedos.
As brincadeiras eram no enorme quintal da minha casa, em Realengo, no Rio de Janeiro, onde eu e minha irmã brincávamos durante horas, quando não estávamos na escola. Ali, recebíamos nossos coleguinhas de escola e crianças da vizinhança.
Aos dez anos de idade, mudei com meus pais e irmã para Friburgo e aprendi as brincadeiras de rua, com total equilíbrio, numa rua de enorme inclinação – em Olaria, numa das ladeiras tão típicas da cidade. A partir dessa idade, deixamos de ganhar brinquedos, até porque a mudança de cidade trouxe sérios ajustes econômicos para nossa família. Mas não deixamos de brincar.
Em casa, porque minha mãe trabalhava para fora (costurava em casa, para uma confecção de roupas), eu e minha irmã, dividíamos as tarefas domésticas. E cumpríamos com nossas obrigações escolares sem grandes problemas. Isso nunca nos sobrecarregou; antes, fortaleceu laços de amizade e afeto em nosso lar.
Íamos e voltávamos a pé para a escola, o Colégio Canadá, debaixo de chuva ou de sol. Aos domingos, íamos à Igreja, também a pé. E isso acabava por ser mais uma diversão.
E fomos MUITO felizes!
Claro que houve as frustrações, as dores, as rebeldias da adolescência, os problemas de família. Tudo superado a seu tempo. Nada de traumas. Muitos aprendizados.

Hoje, adulta, tenho dois filhos infantes. Miguel tem sete anos de idade e Augusto, cinco.
Eles andam menos a pé do que eu andava na sua idade, embora eu esteja investindo mais nisso agora que moramos no Centro da cidade.
Eles ganham mais brinquedos do que ganhei em toda a minha infância, mas tenho procurado não ceder à pressão consumista e respeitar os momentos especiais para dar novos brinquedos. Além dos aniversários, do Natal e do Dia das Crianças, os presentes chegam à nossa casa, na maioria das vezes, em situações muito bem pensadas e podem ser bonecos, jogos, livros ou roupas. Dar valor ao que se ganha – tão somente porque se ganhou – é um aprendizado importante para a vida.
Meus filhos podem falar sobre muito mais assuntos do que eu tinha condição no meu tempo de criança. Isso porque têm mais conhecimento (surpreendentemente mais para sua idade) e porque têm espaço de diálogo. E essa é uma experiência adoravelmente assustadora para mim: não tolher pensamentos, respeitar opiniões, ampliar/corrigir seus conhecimentos e, acima de tudo, ensinar sobre desenvolver virtudes e evitar vícios. Educar é um desafio!
Pensando sobre tudo isso, me vêm à cabeça as crianças que não têm as condições mínimas de sobrevivência garantida: alimento, saúde, abrigo, família.
Mas penso, também, naquelas que têm todos esses direitos garantidos, mas, a despeito de terem uma casa, não vivem num lar, se considerarmos este como um espaço onde se reúnem pessoas que se amam e que desejam estar juntas, que verdadeiramente COMPARTILHAM: sonhos, experiências, afetos.

Como professora há mais de vinte anos, estudiosa sobre educação e a partir da minha nova experiência na pós-graduação, reflito sobre a infância que é apresentada nos meios de comunicação e tenho certeza de que não é essa a vivência que quero para meus filhos.
Agradeço a Deus todos os dias por poder, com o fruto do meu trabalho, oferecer a eles o que fisicamente necessitam. Peço a Deus todos os dias que me dê o discernimento necessário para reconhecer o que realmente eles precisam para que se desenvolvam bem também emocionalmente. E acredito que, frustrações, sofrimentos e pequenas privações fazem parte do aprendizado de ser feliz. Ter tudo o que se quer – na maioria das vezes, o que não se precisa – pode trazer pequenos momentos felizes... Mas nem sempre isso é o mais importante para a vida.
Peço a Deus, então, sabedoria para educar meus filhos e vê-los crescer felizes, mas acima de tudo, de bem e para o bem, em busca da justiça e procurando viver com ética, sem serem escravos do consumismo desenfreado, que impede que se enxergue o sentido mais amplo de viver.
Como disse Jesus:
“Não andeis, pois, inquietos, dizendo: ‘Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?’
(Porque todas estas coisas os gentios procuram). (...) Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, (...). Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Mateus, 6, 28-34).

Márcia Lobosco

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