domingo, 11 de fevereiro de 2018

Sobre outros fios


Conta a mitologia grega que o mostro Minotauro, preso no labirinto construído pelo rei Minos, devorava, anualmente, sete rapazes e sete moças a fim de aplacar sua ira. 
Teseu, jovem herói ateniense, decide ser incluído no grupo de jovens que seriam devorados, após voltar vitorioso de uma longa viagem. Ele tinha certeza de que poderia matar o Minotauro e que conseguiria sair do labirinto.
Antes, porém, de seguir nessa jornada desafiadora, Teseu conheceu Ariadne, por quem se apaixonou perdidamente. Ariadne correspondeu imediatamente a essa paixão e como não conseguira dissuadir Teseu da ideia de vencer o Minotauro, entregou-lhe um novelo de fio de ouro. Ariadne explicou que ele deveria desenrolá-lo na entrada do labirinto e, após matar o Minotauro, guiar-se pelo fio para encontrar o caminho de volta.
Tudo correu com sucesso!
Nunca fui boa com fios. Minha mãe, exímia costureira, com dotes também para pequenos bordados, não pôde me ensinar a arte de entrelaçadas linhas e agulhas, pois resisti desde sempre.
Minha irmã herdou o talento e, desde muito nova, aprendeu a lidar com costuras, tricôs, crochês. Além disso, sempre foi capaz de traçar linhas no papel, criando belos desenhos. Ela foi a estilista do meu vestido de noiva, desenhado da maneira que eu sonhara para a mulher que eu era naquela ocasião especial.
Traços no papel víamos também nos desenhos do meu pai ao criar os móveis que as pessoas imaginavam. Depois, ele os concretizava com os "fios" da madeira, num trabalho de artesão.
Um dia, já adulta, minha querida amiga Estelamar, ouvindo meu relato de que eu não havia herdado talentos artísticos, me corrigiu veemente. E me fez ver que os fios e traços com os quais eu trabalhava eram as palavras.
A partir daquele momento, tomei consciência do tamanho do meu apreço pela palavra escrita. Compreendi o "fio de Ariadne" que eu havia traçado na minha vida profissional que, para onde quer que eu fosse, me fazia voltar ao ponto inicial onde a escrita tinha grande importância. Lá, distante no tempo, nos livros que eu vi meu pai ler e nas cartas que vi minha mãe escrever. Mais tarde, nos livros que encontrei e nas formas de escrever que descobri. Durante toda a minha vida, na escrita ajudando a superar frustrações, suportar dores, vencer desafios, expressar emoções e pensamentos, comunicar ideias.
O fio continua sendo esticado... Me trouxe até aqui. E ainda poderá ser desenrolado. Mesmo que eu não saiba até onde me levará.

Que assim seja!

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