Há 25 anos, no
mês de dezembro, logo após a minha formatura no Curso Normal, eu fazia a minha
primeira entrevista de emprego, no Educandário Miosótis. Nunca mais saí de lá.
Pelos mais variados
motivos e dos mais diferentes modos, fiz de tudo nessa escola: já cozinhei,
varri chão, limpei, montei mural, atendi no balcão e no portão, fiz matrícula e
cópias xerografadas, servi refeições e auxiliei nas tarefas de casa e fui
professora em todos os segmentos. Coordenei eventos, reuniões de pais e dei
palestras. E, embora esteja usando os verbos no passado, minha atuação está no
presente e seguirá num futuro bem próximo. Que bom!
Por ser capaz de me
manter num mesmo local de trabalho durante tanto tempo, pode parecer que sou
avessa a mudanças. Sempre achei isso de mim, em consequência do meu
temperamento e de atitudes também em outras esferas que não a profissional. Já
há algum tempo, no entanto, descobri que não é bem assim.
Gosto de mudanças,
sim. Admiro os ciclos da vida, em que precisamos ir nos adaptando a diferentes
sensações. Gosto das marcas deixadas pelos sabores, cheiros, toques, pelo que
ouvimos e vemos. Tenho enorme prazer ao, no desenvolvimento do ciclo,
reencontrar cada uma dessas coisas que ficam guardadas em nossas memórias
afetivas. Aprendi a me preparar para as mudanças, a compreender as
despedidas, a enxergar com esperança os novos ciclos, a enfrentá-los com menos
angústia e com mais fé.
Mudanças que me
pegam de surpresa ainda me assustam. Acho que me assustarão sempre. Mas estou
aprendendo a lidar com as tristezas e as aflições que elas podem trazer e a
desfrutar da alegria que pode vir em consequência.
Gosto de ritos. E
crio os meus próprios quando percebo que necessito mudar. Com paciência e
cuidado, vou me desfazendo e despedindo, me preparando para o fechamento de um
ciclo e o início de outro. Sinto ansiedade, mas grande prazer. Sinto medo, mas
muita coragem. Meu coração dói a dor da separação e, paradoxalmente, pulsa de
felicidade pelo que virá.
Estou em meio a
esse processo. Finalizando-o, na verdade. Quero, como disse o profeta no texto
bíblico, "trazer à memória o que me pode dar esperança". São muitas
memórias. De trabalho árduo, de dificuldades superadas, de troca de
experiências, de partilha de afeto. Que tempo feliz! Que alegria ter vivido
todos esses dias realizando esse trabalho.
E quanta esperança
no início do novo ciclo! Que Deus continue a me dar Sua mão para que eu jamais
caminhe sozinha. Que me dê sabedoria para que eu saiba caminhar com os outros.
E discernimento para seguir minha própria caminhada. Que eu seja luz e que a
luz de quem está ao meu redor ilumine o meu caminhar. E que o Seu amor seja a
base de tudo.
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